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ADOBA - Associação de Doulas da Bahia                                                  

Carta aberta às Doulas da Bahia

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21 de abril de 2020

 

Atuação das Doulas em tempo de Pandemia.

Em 11 de março de 2020 a Organização Mundial de Saúde declarou a pandemia pela Covid-19, uma doença causada pelo novo coronavírus  Sars-Cov-2 ("severe acute respiratory syndrome coronavirus 2", em tradução livre: Síndrome Respiratória Aguda Grave do Coronavírus 2"). No Brasil, após a detecção de transmissão comunitária da Covid-19, a estratégia para contenção do vírus adotada pelo Ministério da Saúde tem sido o distanciamento social ampliado, ou seja, os serviços essenciais são mantidos, mas para evitar aglomerações de pessoas, foi indicado o fechamento de escolas, comércio e estimulado o trabalho remoto sempre que possível.

 

Aqui na Bahia, a faixa etária mais acometida e com maior risco de adoecimento tem sido entre 30-39 anos (números são dinâmicos e podem modificar a cada dia) e a maior proporção de casos está na capital, Salvador (59,62% segundo boletim epidemiológico da Bahia Nº 25 20/04/2020), tendo casos confirmados em 98 municípios da Bahia.

 

É importante que nós, doulas, possamos entender melhor sobre a Covid-19, formas de prevenção/ tratamento e como está a situação na região em que residimos para fazermos escolhas mais assertivas sobre o exercício de nossas funções.

 

A Associação de Doulas da Bahia – ADOBA – entende que a doula:

 

1. A partir de uma perspectiva ética, deve ser suporte para quem gesta e tendo como tripé de sua atuação: (1) apresentar informações baseadas em evidências científicas atualizadas; (2) oferecer suporte emocional; (3) proporcionar apoio físico, utilizando recursos não farmacológicos para alívio da dor. Além de acompanhar e contribuir para o fortalecimento do processo de empoderamento dessa pessoa;

 

2. Apresenta resultados benéficos da sua atuação, comprovados cientificamente, mesmo que não tem seu reconhecimento legal nem trabalhista, mas tem sua inclusão na CBO-Classificação Brasileira de Ocupações, sob o número 3221-35, em de 31 de janeiro de 2013. A CBO é o documento que reconhece, nomeia e codifica os títulos e descreve as características das ocupações do mercado de trabalho brasileiro;

 

3. No estado da Bahia, não tem respaldo jurídico que garanta nossa presença  em maternidades, casas de parto e estabelecimentos hospitalares congêneres, da rede pública e privada, durante o trabalho de parto, parto e pós parto imediato, pois esse PL encontra-se em análise das comissões para aprovação. Portanto, essa lei está presente em apenas cinco municípios da Bahia (Alagoinhas, Lauro de Freitas, Santo Antônio de Jesus, Teixeira de Freitas e Vitória da Conquista);

 

Entendendo também que a situação de cada região deve ser levada em consideração e concordando que nós, doulas temos uma responsabilidade social perante a sociedade baiana:

 

A ADOBA concorda que, neste momento, a redução do fluxo de pessoas em hospitais, maternidades e CPN é uma realidade necessária, devendo, portanto, ser priorizado uma pessoa da escolha da gestante para lhe dar suporte neste ambiente. Mesmo porque há uma escassez de equipamento de proteção individual (EPI) nestes ambientes.

 

ADOBA vem através desta recomendar que as doulas da Bahia possam manter sua atuação atual de forma remota, preservando sua saúde e de suas clientes/ familiares. Que sigam as recomendações de cuidado nos acompanhamentos presenciais (já divulgados na cartilha da DONA que colaboramos na tradução/adaptação) e, por hora, evitem o suporte nos ambientes hospitalares e clínicas até que tenhamos uma realidade mais favorável para esta modalidade de atuação.

 

Ressaltamos que nossa associação tem por objetivo, através das recomendações desta carta, alertar e colaborar com a manutenção da atuação das doulas da Bahia, para que tenhamos um menor impacto emocional e econômico. No entanto, estas não representam, sob nenhuma forma, obrigações. Portanto, estamos disponibilizando um banco de informações e cursos para que as doulas da Bahia possam entender e se informar sobre o atual cenário de atuação e seus riscos, para que todas possamos estar mais conscientes de nossas escolhas.

 

Aproveitamos o momento para expor que discordamos das instituições que impuseram a “suspensão das doulas” de forma arbitrária, não abrindo espaço de diálogo com nossa categoria para encontrarmos possíveis soluções. Discordamos, inclusive, que as doulas entrem nesses espaços como “acompanhantes”, visto que, como tal, não temos respaldo para nossa livre atuação, além de estarmos ocupando o espaço de uma possível figura afetiva e significante desta mulher, o que não é nosso papel.

 

Já tentamos contato com algumas instituições para dialogarmos sobre essa questão da “suspensão” e não obtivemos retorno, mas continuaremos  a entrar em contato com outras e abertas, sempre, para esse diálogo. Concordamos que o fluxo de pessoas no hospital deve ser reduzido, portanto, é interessante que a recomendação seja priorizar “uma pessoa de apoio”, ao invés de “suspender a doula e manter um acompanhante de escolha da mulher”, desta forma a mulher que quiser fazer a escolha pela doula e a doula que concordar com essa escolha, poderão ser melhor compreendidas em suas escolhas.

 

Visto que as doulas trabalham com gestantes e puérperas, oficialmente consideradas pelo Ministério da saúde como grupo de risco do novo coronavírus (a partir de abril), nossa prática precisa ser revista para dar maior segurança às nossas clientes, mas também para estarmos protegidas, reduzindo nossa exposição ao risco de contrair a doença e colaborando também para o ato de quarentena, o qual visa garantir a manutenção do serviço de saúde. Lembramos que em nosso território já tivemos óbito materno pela Covid-19.

 

Posto que o PL de profissionalização das doulas (PL 8363/17) ainda não foi aprovado, portanto não temos uma regulamentação no currículo de formação das doulas e muitas não têm formação prévia na área da saúde, temos uma preocupação sobre o uso e retirada adequada de EPIs pela nossa categoria. Desta forma, estamos construindo, junto a outras associações do Brasil, cartilha de orientação destas práticas, além de estamos lançando ainda esta semana um curso online para melhor preparar as doulas da Bahia para essa necessidade.

 

Com a recomendação atual de atendimento remoto, constatamos por pesquisa local a necessidade em adaptar nossa prática em tempo de pandemia, visto que muitas doulas não detêm conhecimentos ampliados sobre essa modalidade de atendimento. Para tanto, também estamos elaborando cartilha sobre o assunto e iniciamos um curso online de suporte e ativação deste modelo para as doulas interessadas (oferecemos valor acessível e bolsa para quem solicitou).

 Recomendamos que as doulas:

1. estejam atentas aos seus contratos sobre possíveis impactos nos serviços prestados devido a pandemia;

2. mantenham os serviços já acordados com suas clientes, consideramos uma atitude antiética suspender ou interromper um serviço devido a atual pandemia;

3. esclareçam para suas clientes possíveis limitações atuais e indiquem profissionais substitutas caso haja necessidade (principalmente, caso apresente algum sintoma relacionado à covid-19, ou tenha contato com algum suspeito);

4. indiquem as mudanças que podem ocorrer no plano de parto devido a pandemia;

5. intensifiquem a educação perinatal nos atendimentos remotos;

6. placenteiras, indicamos a suspensão dos serviços com manipulação de placentas de partos que ocorram nesse período de pandemia. Aguardem novos estudos mais específicos que garantam a segurança do manuseio da placenta, visto que pode haver contaminação pelo novo coronavírus mesmo em casos assintomáticos;

7. busquem parcerias com outras doulas para fortalecimento do serviço prestado

8. tentem fazer isolamento e intervalo de pelo menos 10 dias entre atendimentos presenciais;

9. as doulas que fazem parte de algum grupo de risco para covid-19, ou residam com alguém deste grupo, indicamos manter apenas atendimento remoto e indicar doulas substitutas para acompanhamento presencial;

10. nos acompanhamentos de parto domiciliar/trabalho de parto, certifique-se de que gestante e familiares estejam assintomáticos e em isolamento e mantenha as medidas de segurança.

 

A ADOBA está disposta a repassar e seguir as orientações do Ministério da Saúde e decretos do estado da Bahia, mas também não deixará de manter o debate construtivo para uma melhor manutenção e preservação das nossas funções. A missão desta Associação é promover a união entre as doulas que assim escolheram ou foram escolhidas a adentrar no mundo da Humanização do Parto e Nascimento. Não possuímos cunho político ou partidário, atendemos a todas, independente de classe social, nacionalidade, sexo, raça, cor, etnia ou crença religiosa.  Nossa finalidade é representar a categoria e defender a autonomia e interesse das Doulas da Bahia, estimulando o caráter individual de atuação fundado na livre iniciativa, na valorização do trabalho, norteando, contudo, as práticas éticas, a fim de contemplar um código comum. Buscando os melhores caminhos para o nosso crescimento, aprimoramento e união. 

 

Bom trabalho e saúde a todas!

ADOBA - Associação de Doulas da Bahia.

@doulasdabahia         adoba@doulasdabahia.com.br

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