Relato de parto de Lívia
Doula Maiana Kokila
Depoimento de Lívia:
Antes de engravidar eu já sabia que queria parir. Quando engravidei fomos em busca da obstetra que iria me permitir viver essa experiência, na nossa primeira consulta com Marilena saímos, eu e meu marido, felizes, tranquilos e seguros, havíamos encontrado o que buscávamos! Agora era mergulhar nesse universo, começamos a buscar mais informações: livros, filmes, cursos, roda de conversa, etc, foi nesse contexto que a figura da doula apareceu. Aprendi que a presença da doula diminuía as intervenções desnecessárias, dava suporte emocional e físico para a mulher durante o parto, mas tudo isso era muito distante da minha realidade, afinal contava com uma equipe referência em parto humanizado, estava muito confiante, determinada, meu marido apoiava e participava de todo esse processo, então acreditava que nesse contexto, a presença da doula no parto não faria muita diferença. Entretanto, como se fizesse parte de um "pacote do parto humanizado" fui em busca de uma doula, ainda sem acreditar que para mim o suporte emocional seria relevante, naquele momento me apeguei a ideia de que ela teria várias ferramentas para aliviar as dores do parto, e isso me convenceu de que a despesa era necessária, sim, porque com todas as mudanças que um filho traz, começamos a selecionar nossos gastos.
Antes do parto fizemos 4 encontros em casa, com a doula, para a preparação do parto, eu amava aquelas conversas, a cada encontro eu sentia que meu marido se envolvia cada vez mais nesse processo, essas conversas foram elucidando também o papel do pai nessa caminhada, eu pensava: pronto, já tá valendo a pena o investimento! Via meu companheiro mais confiante, dava até explicação aos amigos quando nos perguntavam o porquê de um parto normal. As semanas foram passando sem nenhuma intercorrência, me sentia plena e a ansiedade que diziam que iria parecer nas últimas semanas, passou bem longe de mim. Estava tão tranquila que na minha última consulta com a obstetra, já estava começando o trabalho de parto e eu nem tinha me dado conta. Voltei pra casa às 16h, as contrações começaram de forma intensa. Maiana, a doula, chegou na minha casa por volta das 17h, as contrações estavam muito intensas, tudo indicava que Theo iria nascer em poucas horas, estava tudo saindo como esperava, só não contava que meu bebê queria nascer às 16:10h do dia seguinte.
Demos entrada no Hospital às 21h, nesse momento as dores já eram alucinantes, Maiana não parava com as massagens, o que me aliviava bastante , já não conseguia ficar sem aquele apoio. Meia noite subimos para a sala de parto, tudo evoluindo bem, eu estava bem tranquila, confiante que daqui a poucas horas meu bebê iria nascer. O tempo foi passando, as dores aumentando, dilatação total e meu bebê não girava, já não estava suportando as dores, solicitei analgesia, naquele momento pensei em todas as complicações que poderia ter, mas foquei no alívio que esse recurso poderia oferecer, era um desvio no meu caminho, mas estava certa que assim mesmo eu iria chegar no meu objetivo final: parir. A analgesia aliviou muito a minha dor na lombar, mas só fazia efeito no meu lado direito, do lado esquerdo eu seguia sentindo as dores, ainda que em menor intensidade. Dormi um pouco, acordei sentindo as dores do lado esquerdo, era o lado que Theo estava "enganchado", queria mais analgesia, cada vez mais. Quando as dores voltavam, a doula estava lá, incansável, lançando mão de todas as recursos que ela tinha disponível. Por volta das 05h da manhã, me senti cheia de energia, pensei: é agora, ele vai nascer agora! Comecei a ter mais disposição para andar e mudar de posição, algumas horas depois, sem nenhuma evolução eu comecei a pensar em tudo que havia vivido até ali, o cansaço bateu, o medo tomou conta de mim, eu já não queria parir, eu continuava sem querer um parto cirúrgico, me vi sem saída, eu só tinha 2 caminhos e não queria nenhum deles... De repente meu marido olhou pra mim e disse: eu apoio você em qualquer decisão. Eu sabia o que ele estava me dizendo, via em seus olhos assustados que ele já havia chegado no seu limite, e eu também...
Eu desejava que a equipe me dissesse: não dá mais, é arriscado seguir, mas isso não acontecia. Eu olhava para a equipe e elas estavam lá tranquilas, sem nenhum sinal de preocupação. Maiana seguia com as massagens, me orientava a mudar de posição, colocava bolsa de água quente e eu desejava que ela se cansasse também, afinal sem o apoio dela, seria mais fácil pra eu aceitar que não dava mais pra seguir, mas ela não cansava.
Passada mais algumas horas eu comecei a chorar, havia chegado no meu limite, já que ninguém havia desistido (como era meu desejo, porque assim acreditava que seria menos frustrante) cabia a mim tomar a decisão, afinal essa decisão só poderia ser minha mesmo.
Quando já havia internalizado que não aguentava ficar esperando meu bebê girar, afinal já estava há quase 20 horas em tp, Maiana me falou as palavras que eu precisava, aquilo me deu mais um fôlego, esticou mais a corda do meu limite e seguimos. Voltei a acreditar que eu iria parir, ela começou a fazer manobras para ajudar que Theo girasse, essas eram bem doloridas, eu: parece que uma faca está entrando dentro de mim, socorro! Ela: é isso mesmo, sinal de que está tudo bem! Algum tempo depois, todos comemoram: Ele girou! Tudo certo, agora é só parir. Bom, naquele momento eu já estava esgotada, já havia desistido de tudo novamente, eu não acreditava que iria parir, nem raciocinava mais. Mais uma vez, a doula foi lá e me resgatou, me deu alguns segundos de lucidez que me fizeram ter coragem de levantar da cama, mesmo sem raciocinar muito bem, sentar no banquinho e parir!
Sim, eu consegui, e sei que sem as parteiras e a doula não seria possível, não teria vivido essa experiência tão desejada.
No dia seguinte eu e meu marido fizemos uma breve retrospectiva do parto, estávamos extremamente felizes com a nossa escolha de parteiras e doula, essa que até no final era considerada por nós um "item de luxo', virou figura essencial na nossa jornada, foi quem me resgatou e me permitiu viver o que eu havia me proposto quando tudo estava seguindo o curso que eu havia planejado, depois disso Maiana kokila virou para nós: Maiana, a inoxidável!
A força, a disposição, a energia dela é indescritível, só vivenciando para entender!